Às vezes, o luto começa muito antes da despedida e continua muito depois dela.
Quem cuida sabe: há perdas que não se veem, mas que pesam todos os dias.
Perdemos a rotina.
Perdemos a função.
Perdemos a ligação.
Perdemos, pouco a pouco, a pessoa que éramos antes de tudo isso.
A perda primária pode ser a despedida de quem amamos.
Mas as perdas secundárias — aquelas que chegam depois — são, muitas vezes, as que mais doem: a ausência da rotina, o silêncio da casa, o vazio das tarefas, a sensação de já não saber quem somos fora do papel de cuidador.
Reconhecer essas camadas do luto não é sinal de fraqueza.
É maturidade emocional.
É dar nome ao que dói, para que o corpo e o coração possam, lentamente, voltar a respirar.
Permitir-se sentir é o primeiro passo para reencontrar-se.
O silêncio sobre o luto
Mas isso é essencial para encararmos as perdas e, dessa forma, seguirmos em frente mais fortes.
Apesar de percebermos que o sofrimento vindo das nossas perdas é intenso e difícil de superar, poucas pessoas se importam, de verdade, em aprender com isso.
Encontramos muitos livros, cursos e formações, mas este caminho é sempre individual.
A vida mostra que é no dia a dia que ganhamos força e superamos a perda — quando nos permitimos parar e olhar para o que aconteceu.
Geralmente, as pessoas não se abrem para refletir.
Perdem um tempo precioso que poderia ser dedicado a pensar sobre o que ocorreu, ficando presas às lamentações e à sensação de serem vítimas — quase nunca se vendo como protagonistas da própria vida.
Experimentar uma perda se torna ainda mais doloroso quando não somos capazes de viver plenamente o que nos é oferecido.
Se não damos o nosso melhor, não percebemos o quanto o outro se transformou a partir do encontro conosco.
E, se não aceitamos o que o outro nos ofereceu, deixamos de perceber o quanto ele também nos transformou.
A ficha cai, muitas vezes, quando não há mais tempo — ou, pior, no momento em que a vida chega ao seu último suspiro.
Nada é para sempre
Queremos acreditar que tudo é para sempre.
Mas, na verdade, nada é para sempre. Quando a saúde se esvai — essa dimensão tão pouco valorizada do ser humano — é que pela primeira vez contemplamos a possibilidade da nossa real finitude.
É nesse confronto com a perda que conseguimos olhar para o que realmente importa nesta existência: aquilo que não se conta, mas que verdadeiramente conta.
Por que não somos preparados para perder?
Por que, então, não somos preparados para lidar com a perda?
É preciso respeitar a grandeza do ser humano que cruza o nosso caminho e valorizar o que aprendemos com as experiências que vivemos.
Somente quando a gratidão permeia nossos pensamentos em torno do que foi perdido é que o sofrimento do luto começa a se dissolver.
É assim que voltamos a caminhar com leveza pela vida.
A perda como parte da vida
A perda é inerente à vida ela faz parte de quem somos.
Nosso tempo de existência um dia acaba, e isso é inevitável.
Mas a forma como escolhemos estar aqui pode nos trazer experiências de imortalidade.Perder o apego é um ato de coragem e, muitas vezes, o verdadeiro caminho da vitória.
Apesar de ser difícil, podemos escolher como vamos encarar as perdas da vida:
se como um sofrimento eterno, ou como um aprendizado envolto em gratidão.
O luto que começa antes e continua depois é, no fundo, uma expressão de amor profundo — aquele que atravessa o tempo, a ausência e a própria vida.

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