A demência, ao contrário de muitas outras condições, exige cuidados específicos, presença humana, estimulação cognitiva, segurança e, acima de tudo, uma abordagem centrada na pessoa. Quando estes requisitos falham, as consequências são profundas: regressão funcional acelerada, maior agitação, perda de autonomia e deterioração emocional.
Um retrato que exige ação imediata
A reportagem revela uma realidade que muitos profissionais e familiares já conhecem bem:
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Muitos idosos passam dias inteiros sentados, sem atividades estruturadas.
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A estimulação cognitiva, emocional e social é muitas vezes insuficiente.
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A saída ao exterior essencial para a saúde física e mental é rara ou inexistente.
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A escassez de funcionários limita a capacidade de resposta.
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A formação específica em demência é ainda insuficiente na maioria das instituições.
Este cenário mostra claramente que não estamos apenas perante um problema de recursos, mas de modelo de cuidados. O envelhecimento da população continuará a aumentar, e por isso precisamos urgentemente de reorganizar a forma como cuidamos.
O que precisa de mudar?
Respostas e soluções necessárias
1. Rever a política de cuidados de longa duração
É urgente construir um modelo atualizado, moderno e centrado nas necessidades reais das pessoas com demência. Isso implica:
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Reforço do investimento público e privado em estruturas residenciais.
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Maior fiscalização da qualidade dos serviços prestados.
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Criação de normas mínimas obrigatórias de estimulação, atividades e interação social.
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Incentivos à criação de respostas alternativas: Centros de Dia, equipas domiciliárias, serviços integrados.
2. Formação específica e contínua para os profissionais
Os cuidadores, assistentes operacionais, auxiliares e técnicos de saúde precisam de:
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Formação em comunicação com pessoas com demência.
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Técnicas de estimulação cognitiva e funcional.
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Estratégias de prevenção de comportamentos desafiantes.
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Ferramentas de autocuidado (burnout entre cuidadores formais é muito elevado).
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Supervisão técnica regular.
Sem profissionais capacitados, os melhores planos ficam no papel.
3. Reforço das equipas nos lares
A falta de pessoal é uma das causas centrais do problema. Medidas possíveis incluem:
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Criação de rácios mínimos obrigatórios entre profissionais e residentes.
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Valorização salarial e progressão na carreira.
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Benefícios fiscais para instituições que cumpram boas práticas.
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Equipas multidisciplinares com psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas.
4. Programas diários de estimulação e atividades significativas
Atividades estruturadas devem ser a regra, não a exceção. Exemplos:
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Caminhadas orientadas e saídas ao exterior.
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Oficinas de memória e estimulação cognitiva.
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Atividades musicais, artísticas e culinárias.
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Rotinas que promovam autonomia (vestir-se, arrumar objetos, jardinar).
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Sessões de movimento adaptado.
Mesmo pequenos estímulos fazem enorme diferença na qualidade de vida.
5. Apoio às famílias
Muitos familiares não visitam por dificuldade, distância ou exaustão emocional.
É fundamental:
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Criar programas de apoio psicológico aos cuidadores informais.
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Formações e workshops sobre demência.
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Melhor comunicação entre lares e famílias.
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Incentivos a visitas regulares, incluindo horários mais flexíveis.
Quando a família está envolvida, o idoso sente-se mais seguro e emocionalmente protegido.
6. Tornar a comunidade parte da solução
A sociedade deve ser mais inclusiva para as pessoas com demência.
Estratégias:
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Parcerias entre lares e escolas, associações e grupos culturais.
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Projetos intergeracionais.
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“Cidades amigas da demência”, com espaços públicos acessíveis e atividades comunitárias.
A demência não deve ser sinónimo de isolamento.
Conclusão: Cuidar não é apenas tratar é valorizar vidas
Os números mostram que não basta garantir camas: é preciso garantir vida, significado, atividade, relações humanas e bem-estar. Cada idoso com demência tem uma história, memórias, afetos e necessidades que merecem atenção e respeito.
Rever as políticas de cuidados, investir na formação técnica e promover ambientes de cuidado mais humanos não é apenas uma medida administrativa é um dever ético e social.
A urgência é real. A resposta tem de ser coletiva. E o momento de agir é agora.

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